domingo, 22 de maio de 2011

O mundo tem 6 bilhões de pessoas e um big-mac

Sexta- feira acordei com sono, o despertador me ajudou a levantar. Lavei o rosto. Acendi a luz do quarto, troquei de roupa. Tomei um café forte, torrei um pão, passei manteiga. Peguei meu laptop, minha bolsa, uma maçã, e quase ia esquecendo a torradeira ligada, desliguei, e finalmente fui. Fui pra aula. A pé, pois não tenho carro e, por enquanto, nem bicicleta.
    Cheguei atrasada. A sala estava cheia, muita gente dormindo, outros bem animados as 7:40 da manhã, cada um do seu jeito. O professor passava um vídeo, que logo percebi ser em espanhol, porque senti alguns “buracos” nas frases. Depois de assisti-lo ele fez uma pergunta um tanto estranha: você sabe quanto custa um big-mac? Tinha quase certeza da resposta, ou era R$6, 75 o preço de mercado, ou era 30, 40 centavos um valor extremamente menor , porque temos sempre a sensação de estarmos sendo enganados, até  mesmo quando o produto entra na promoção. Normal, sem explicação, agente simplesmente sente. Enfim, a resposta não era nem uma nem outra, um big Mac custa o equivalente a  300 REAIS!!! E você achando que é barato construir um sanduíche, desista, faça uma torrada.
      Voltei para casa e fui almoçar um miojo. Fiquei pensando que talvez aquele macarrão instantâneo também não custasse aqueles 60 centavos que paguei. Se ele fosse mais caro acho que nem comeria, não valeria a pena - 502 Kcalorias de puro carboidrato, mais 5g de pó de carne não vale a relação custo benefício. Conclusão: é melhor comer no RU(Restaurante Universitário). Por que  perder tempo pensando nisso? Por que se preocupar?  Dependendo de quem seja você, talvez não faça nenhuma diferença mesmo, mas continue lendo, ao final você descobre .
    Mas por que um big Mac custa tão caro? Pensa comigo, é uma longa história. Para construir apena UM sanduíche precisamos do hambúrguer, que certamente é produzido por uma empresa frigorífica cheia de trabalhadores assalariados. Depois vem o pão feito por uma outra empresa que investiu em equipamentos, provavelmente feitos a base de petróleo proveniente do Iraque, metal extraído da África do sul e talvez montado no México. Ainda falta a distribuidora, que conta com mais alguns trabalhadores, todos eles com carteira assinada, seguro saúde e vale transporte. Enfim, aqueles R$6,75 não pagam a caixinha na qual o big Mac vem inserido, nem  o salário do funcionário atendente, e muito menos dos trabalhadores de cada etapa da construção de um simples sanduíche de pão, carne e queijo. Você deve estar se perguntando então, quem pagou o resto da conta? Além dos funcionários do frigorífico que trabalharam a mais do que realmente ganham, tem o pessoal da construção dos equipamentos que provavelmente vive em péssimas condições. Já aqueles da distribuidora,  na realidade não ganham seguro saúde e o vale transporte foi reduzido para que você e eu possamos pagar aqueles míseros R$ 6,75 .
   Sabe aquela TV de plasma que fica na sua sala? E lembra daquela outra, que era da sua bisavó e foi parar no quartinho de empregada ? Pois então,  provavelmente sua TV de plasma vai “pifar” em 5 anos, e aquela da sua bisavó estará funcionando normalmente, “o que ela tem de idade também tem de experiência”. Comece a perceber na sua cozinha, quantas cafeteiras você já estragou? Quantas torradeiras você já tentou arrumar? E sempre chegava a mesma conclusão, vale mais apena comprar uma nova do que consertar. Assim foi com aquele ar-condicionado, com aquele liquidificador, a batedeira, a máquina de lavar, o abajur, a lâmpada e até mesmo o tapuer, sabe aquele potinho de plástico de guardar biscoito? Pois então, ele também. No final percebemos que hoje as coisas são feitas para durar menos tempo, propositalmente, não é porque não temos tecnologia suficiente para produzir algo realmente duradouro, mas sim porque não queremos - alguns afirmam até que não podemos. É possível produzir um computador portátil que dure a vida toda! Mas você quer passar 90 anos com o mesmo laptop? Se ele quebrasse seria um dia de sorte.
  Existem empresários que afirmam estar na movimentação da economia e da globalização a justificativa para os produtos possuírem uma durabilidade menor, isso mantém o mercado  “aquecido”. Já os consumidores mais radicais dizem que estamos sendo roubados e manipulados. Há também aqueles que negam a situação. Movimentar a economia até que faz sentido, pois se as coisas duram pouco, consequentemente compramos novos produtos e com isso giramos o capital. Se a mercadoria tivesse maior durabilidade, gastaríamos menos e a economia não movimentaria. É mais ou menos isso, entende? Mas... na realidade acho que esse sistema não faz mais sentido, porque é difícil afirmar que fazemos compras por necessidade. Muito do que compramos hoje é vaidade, prazer, satisfação de ter algo novo, atualizado. Basta ser diferente para que desperte a vontade de adquirí-lo. Portanto, a maioria das coisas que compramos são logo substituídas por outras ainda mais novas. Sem nos dar conta nossa lata de lixo contém milhares de coisas em ótimo estado, que depois são incineradas, ou aterradas, ou ainda exportada para outros países, por questão de espaço. É um estilo de vida que nas últimas décadas foi sendo implantado em nosso cotidiano, a medida que passou-se a trabalhar mais afim de mantê-lo, passando por despercebido aos olhos humanos.
Não quero transformá-lo em um radicalista, nem capitalista que só reclama do sistema. Na verdade é preciso ter consciência da situação e procurar novas alternativas. Compre uma TV, coma um big-mac, troque de computador, mas por favor, não passe o resto da vida apenas aceitando todas essas verdades, isso, quase 6 bilhões de pessoas já fazem.